16.9.08

Les non-dupes errent

A minha intenção de escrever um blog nunca foi de fazê-lo um diarinho. Razões óbvias: minha vida é chata e quem se interessa por ler chorumelas de uma mulher de 28 anos? Pois é, então. Chata, mas com noção, eis meu lema. Mas, enquanto a analista não vem, sorry, periferia, vai ser diarinho, sim. Mals aê.

Tô bem legal do Rio. Não aguento mais.

Há um mês mais ou menos (acho que mais) fui assaltada duas vezes na mesma semana, na mesma linha de ônibus em horários bem diferentes. Da primeira vez e ainda fiz uma piadinha besta, afinal eu estava toda errada: desligada, ouvindo MP3 às 22h30 no 638, o cavernoso.

No segundo assalto, não rolou. Nesta segunda vez não rolou nem o draminha-básico ("ó, céus, como sou vitima do destino mimimimimimi"). Não deixei porque eu achei que já devia ter aprendido a lição. Eu já devia estar preparada. Fui assaltada numa segunda-feira e, de novo, sábado. Era um sábado. Eram 10 da manhã. Era uma manhã azul, azul, azul. E eu sendo assaltada? Ah, não. Não posso chorar. Claro que não. Não posso reclamar. Não posso nem fazer piada. Eu tinha que ser graduada nisso. O resultado? Passei a não confiar mais em gente. Passei a ter sonhos onde sou assaltada. Rá: já fui assaltada umas 47 vezes neste mês.

O tempo passa, o tempo voa, os zilhões de estratagemas são feitos (não pego mais o cavernoso, o que me faz dar a volta ao mundo pra chegar ao consultório, mas, beleza, nada vale mais que a pseudo-paz-de-espírito) e eu achei que já estava na hora de confiar nas pessoas. Queria (quero? não sei, acho que sim) escrever alguma coisa sobre como eu acredito na humanidade, como as pessoas são legais, como o Homem me emociona e blablabla. Isso, claro, acreditando que minha cota de violência já tinha sido batida pro ano inteiro e eu já tinha minha foto na plaquinha de funcionária do ano.

hummmmmm.

Aí eu estava no trem (adoro trem) ontem e começa um tiroteio no meio do trajeto. Tu tá de brinks, né, deus? Ontem já foi um diazinho totalmente latrina e Você, todo poderoso como é, vem me mostrar que pode ser pior, ainda.

Vocês sabem o que é pior nesta situação toda? É eu ter a mais plena noção de que somos reféns do outro (do Outro? vai Lacan, vai Lacan!), em todos os sentidos. Que nós só podemos colocar no nariz na vida nos largando na mão desse Outro, que pode nos escancarar pra violência, como também pode nos encher de beijos numa manhã fria, como a de hoje.

(então isso quer dizer que o problema nao está em morar no Rio mas, sim, em ser falante. O que quer dizer que não é de fato um problema, pode ser uma solução e blablablablabla... Minha analista já teria me cortado na hora em que digo que o homem me emociona. Como ela não está aqui, meu lado histérica demandante vai cantarolando isso)

(deus, agora já tá bom, né?)

1 ficando fora de si:

Caio Miniaturas disse...

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Hehehhehe... boa parte desse conteúdo "rir-pra-não-chorar" será (MUITO BEM) aproveitado naquele projeto. Depois te mostro para você então dar (ou não) a aprovação. E será sempre assim, viu? Com o seu (con)sentimento. Te amo, minha amiga linda, linda, linda... e incrível. Ótima semana.

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"Ser feliz de uma forma realista

é fazer o possível e aceitar o

improvável. Fazer exercícios sem

almejar passarelas, trabalhar sem

almejar o estrelato, amar sem

almejar o eterno". (Quintana)

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