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15.12.09

TRINTA ANOS.

Aí, quer saber a verdade? A verdade é que tô cansada. Exausta.

Quer a notícia boa agora? Dessa vez, NÃO é de mim. É de uma parte da humanidade de uma forma geral. Mais ou menos 97% das pessoas que: ou são loucas, ou se fazem de, ou são bem mesquinhas, pequenas mesmo. Sabe aquele tipo de gente que se regogiza quando acha que te sacaneou? Pois bem, quero que vc se dane. (não você que lê isso, mas você que tentou me sacanear. hehe). Cansei de gente assim. Quero que todas se explodam. Se eu puder assistir de camarote será lindo. Se eu tô sozinha? Não, felizmente conheço bastante gente que está nestes 3% aí.

Cansei de Murphy também, vá lá.

Muitas vezes eu acho que sou grossa, que tenho fogo nas ventas, que atiro meu coice à revelia. Sagitariana com ascendente em áries, penso eu. Hoje, eu tenho certeza de que não sou assim. Não sou só assim, tudo bem. Cara, eu sou uma das raras pessoas que deseja um bom dia ao cara que vende bilhete no trem. Ele fica todo felizinho quando me vê chegando. E eu me orgulho disso. Mesmo. Eu cumprimento todos os porteiros do meu prédio. E eles me adoram. Maaaaaaaas, armo, sim, meu coice quando pedem. E, gente, na boa, eu não sei o que ocorre com as pessoas (ou se eu sou pára-raio de abusados).

Vou contar dois pequenos extratos do que me ocorreu estas duas ultimas semanas. Atentem:

Estou lá, feliz e faceira, num domingão no msn. Entra um sujeito e me manda um

- quero te comer.

OI? Vem cá, não vai me dar nem um (brega) -BOM DIA, FLOR DO DIA? Não? Hmmmm.

Bom, e eu nem fui grossa de cara. Expliquei que agora eu estava a fim de romance, o que, traduzindo, quer dizer: - Filho, não vai rolar porque eu já conheço este roteiro. Na hora até que vai ser legal, mas depois não vai rolar nem um cafuné, eu vou ter que escutar você falando de outras mulheres, vou ter que achar isso tudo muito normal, afinal "somo amigos". Não, obrigada, passo a vez... O fulaninho sentiu-se ofendido. Eu me senti culpada até hoje. Hoje, mando-lhe um sonoro: CAGUEEEEEEEI. E apertei o delete. Menos um a ocupar meu tempo com tranqueira.

Segundo caso.

Tô mais uma vez no msn. Surge um segundo: - E o reveillon, vai fazer o que? vai viajar? Respondo que, a princípio, não, mas que não sabia ainda. Ele lança um: -Não quer vir pra dia 30, e vamos para o Rio dia 31? (onde o "" é um OU-TRO ES-TA-DO DA FE-DE-RA-ÇÃO).
Bom, não posso dar mais detalhes deste segundo caso, mas digamos que a noção passou longe. O cara sentiu-se ofendido porque eu não disse "noooosa, vou me atirar correndo nos seus braços". Pergunto: por que eu deveria fazer isso? A pergunta é séria: se alguém tiver a resposta, por favor, me ilumine com vossa sapiência.

Minha primeira (e única) hipótese é que as pessoas não querem trabalho. Em todos os sentidos. Mas, alou, brasil, viver é trabalho. Levantar cedo, tomar banho, ir ganhar seu dinheiro, voltar pra casa, resolver seus problemas íntimos (ou, pelo menos, permitir se encontrar com eles de vez em quando). Cara, tudo isso é trabalho. E não adianta fugir, porque se a gente finge que não vê daqui, ele volta MAIOR E COM CARA DE MONSTRO DO ARMÁRIO dali. Mas, não. Vamos tomar um prozac, viagra, um rivotril, um doce. Vamos alugar uma xereca, um piru, uma distração qualquer que nos faça esquecer um pouco do monte de cocô onde estamos nos afundando. Vamos ser felizes full time. De mentirinha, mas vamos. Vamos passar batidos do que nos faz gente.

Não sou assim, ok? Não facilito mais a vida das pessoas. Eu dou trabalho porque eu trabalho em mim pra caceta. Dez anos de análise. DEZ. Talvez um carro que eu poderia ter comprado. Mas, na boa, me saber assim não tem preço. Recomendo análise em vez daquele astra que você estava de olho.

É isso.



(ah, eu sei. é injusto este texto aqui. as pessoas que me leem são sempre muito doces comigo, sempre. mas eu precisava escrever sobre isso. se vc se sentiu ofendido, pode me xingar. :~)

30.4.09

As coisas que só acontecem comigo: o pseudo-resgate do soldado ryan versão uso recreativo da guerra.

Eu tenho um grupo grande de amigos que carinhosamente é entitulado "chat amizade". Nós até poderíamos ter nos conhecido através daquele número de telefone, mas, infelizmente, não. Nos conhecemos através das vias normais: empurrando o pé na cachaça di cum força. Mas nem me incomodo, afinal são estas pieguices que dão sentido à vida (/lairribeiro). O caso é que nos apaixonamos. Todos juntos, fuminantemente e de uma vez. Se ficássemos pelados, ia dar problema. Trocávamos zilhões de emails o dia inteiro, ríamos, conversávamos, nos ligávamos e imaginávamos um mundo onde as paredes eram de wafer e as cachoeiras de chocolate ou de amarula. É, amarula orna. O fato é que tínhamos nada de melhor pra fazer das nossas vidas. Pra você, leitor, ter uma idéia, eu só tinha só que parir minha dissertação de mestrado. Uma chatice. Essas coisas.

Enfim, essa pequena introdução para relembrar do fatídico dia do paint ball.

É conveniente lembrar que sou uma pessoa cagona. Muito cagona, eu diria pra ser bem honesta. Exemplo: dia destes estava na minha caminhada, às 8 da manhã, quando encontro com uma moça. Nuam rua vazia. Só eu e ela. Ela me encara. A música bombava no meu ouvido. Meu deus, eu já vi esta cena, pensei. Ela se aproxima. Perdi meu celular. De novo. No mesmo lugar. Pensei mais uma vez. Ela diz: - Mas você anda rápido, hein?. PUTZ. Não, ela não me roubou! Quase me mijei de tão relaxada que fiquei.

É Então, num destes zilhões de emails, alguém sugere: VAMOS AO PAINTBALL! Oi? Colocar uma roupa esquisita, dar tiro de tinta nas pessoas que eu amo ainda pagar os tubos por isso? Ah, que GENIAL. 

Fui, paguei, me vesti com a roupa esquisita. E começa a brincadeira. Aperte o play.




Brincadeira? BRINCADEIRA?

Três palavras definem: CAM-PO DE BA-TA-LHA. 

Cá entre nós? Me caguei. Sem charme e sem classe mesmo. Me caguei de medo.

Quando eu comecei a ouvir uns "AI, CACETE. ISSO MACHUCA!!!! PARA, PARA, PARA". "ATIRA NA SUA MÃE, SEU ESCROTO", P%¨%#%$#$%# QUE PARIU, ESSA ¨%$¨%#$$%#$% DÓI PRA C*&¨%¨%$%#%$#$$"  e outras coisas bem menos doces, usei a boa e velha tática de guerra: me encondi.  Escontrei um fresta e lá fiquei entricheirada, rezando para que o tempo se esgotasse e eu não levasse nenhuma bala perdida bolinha de tinta. 

Teoricamente resolvido. êêêê! 

Então foi isso: fiquei ali naqueler cantinho, toda apertada e rezando com força para que não me encontrassem e pra que o tempo passasse rápido. La la la. 

Enquanto isso, os gritos de dor e suplica continuavam. As meninas, já fora do jogo, choravam de dor. Praguejavam contra os namorados. E eu toda cagada.  Dane-se, eu sou covarde mermo (sic), e daí? Tudo transcorria conforme o roteiro até que... 

- Rá, rá, rá. RENDIDA. 
- RENDIDA É O CACETE. RA TÁTATÁTÁTÁTÁTÁTÁTÁTÁ.

Levei o maior susto da minha vida. E a reação foi do sistema nervoso autônomo. Puro reflexo de ódio. 

Em resumo: fuzilei meu amigo com todo meu estoque de bolinhas. Duzentas.  Á queima roupa. 

8.2.09

As coisas que só acontecem comigo: na ginecologista

Era a primeira vez que ia nela. O meu antigo era homem e velho, o que dificultava bem a minha vida. Perceba: como eu poderia falar "Po, Dr Sarapião, tô com uma dúvida em relação.... ". Ok, não consigo falar minhas intimidades em público. Pense o que você, leitor, pensar, inclua a palavra xavasca, por favor.
Não rolava falar pra um velhinho, entendem?
Mudei. Ela era nova, moderninha. Gostei.

Na primeira entrevista...

- E então, Carol. Você já teve quantos parceiros na vida?

Opa.  Gente, é sério, não consigo falar minhas intimidades assim. Não restando outra alternativa, menti. 

- Ah,  três ou quatro...

Ela escrevia e levou um susto quando eu falei "quatro". Me olhou por sobre os óculos e ...

- Hummmmm, SA-FA-DI-NHA!

Oi? Como? Safadinha porque, teoricamente, eu sapequei quatro caras? Abri um sorrisinho amarelho, concordei. Sim, sou safadinha.

Imagine o que teria me acontecido se eu tivesse completado a frase. 

-  Ah,  três ou quatro... DEZENAS.

Voltei pro doutor Sarapião.




2.12.08

As coisas que só acontecem comigo: nudez masculina.

Eu comecei tarde. E eu não sei se tem a ver com que eu vou lhes narrar agora, mas a nudez masculina é algo que me deixa desconfortável. Eu acho homem uma delicia, tão delicia que tá duro viver sem bonito: tórax, ombro, braço, rosto, barba. Agora, não me pede pra olhar suas vergonhas e achar aquilo belo. Birrotas são feias.

Mas desconfio que isso tem uma razão de ser.

Meu primeiro beijo foi aos dezessete anos, o que eu acho que confirma uma hipótese levantada por mim numa conversa com a Dri: eu só posso ter bafo. Veja bem: nada de tão errado assim esteticamente, sou inteligente, bacana, um pouco neurótica (mas disfarço bem em nome da política da boa vizinhança). Assim, a única coisa que poderia explicar a atual seca o fato de eu ter dado meu primeiro beijo tão tarde é eu exalar cheiros pouco agradáveis. Simples, assim.

Apesar de o meu primeiro beijo ter sido aos dezessete, a primeira vez que tive contato com um homem nu foi aos dezesseis. Engraçado, isso me lembrou a sobrinha da Gretchen, que fez um filme pornô e ainda é virgem. Eu era toda santinha, quieta, achava um absurdo beijo de língua, além de só tirar nota 10 em tudo e lavar a louça, arrumar a cama. Nem cárie eu tinha. Eu era a filha exemplar. Além de insuportavelmente chata, claro. Ver homem pelado era algo impensável, algo que só podia ser feito depois do casamento.

Voltemos.

Nunca tinha visto um homem nu fora do âmbito familiar, uma vez que meu irmão não tem o menor pudor em andar peladão pela casa, apesar dos meus berros neurastênicos. Vamos combinar, né?! Eu preciso realmente ver as partes pudendas do meu irmão? Não, obrigada. Passo a vez.

Aos dezesseis, eu estava no segundo ano do segundo grau de um colégio novo. Neste colégio novo, as pessoas levavam a sério a aula de artes. No outro, era aquela coisa de "aprendam a usar o compasso e estamos conversados". Neste, não. Havia discussões sobre teatro e música. E eu sou era completamente alienada destas coisas estranhas dos movimentos artísticos e tal. Ainda ouvia funk melody e a arte só entraria na minha vida HAHAHAHA muito tempo depois.

A então professora de artes pediu para que fôssemos a uma peça e fizéssemos uma resenha. Legal, eu nem sabia o que era uma resenha aos dezesseis. Lembrem-se que naquela época não havia nem o Google. Apelei pro bom, velho e saudoso Aurélio. Eu disse que eu era alienada. Eu disse. E, só a título de informação, eu era uma das melhores alunas da turma. É a velha máxima kantiana: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. O tal trabalho era em grupo e, por isso mesmo, nem levei a sério. Achei que alguém do grupo pudesse escrever alguma coisa sobre A Bruxinha que era boa e estaria tudo certo.

Não, ninguém escreveu sobre A Bruxinha que era boa. Fiquei sabendo que sobraria pra mim a árdua tarefa da assistir uma peça e escrever sobre ela. "E, olha só, Carolina: o trabalho é pra amanhã". Eu podia ter sido bem mesquinha e não colocar o nome de ninguém. Mas fui idiota como sempre.

Oi?

Claro que eu me desesperei. Minha mãe, paciente, disse que iria comigo. Olhamos o jornal e resolvemos: Teatro Carlos Gomes ver Gilgamesh. A peça era com o Luiz Melo, que estava começando a aparecer na Globo, o que dava uma nova dimensão à peça. Não era qualquer um, era o Luiz Melo da Globo. Evidentemente, eu não sabia até agora naquela época que Gilgamesh foi o primeiro conto da humanidade. Queria mesmo era a nota. Assim mesmo, bem adolescente de saco cheio de tudo.

A peça vinha transcorrendo numa boa. Rolavam uns incensos (minha mãe e o moço que estava ao lado dela reclamaram um pouco, para minha mais total e completa vergonha), o cenário era bem bonito, tinham umas coisas épicas, navios, guerras, uhuuuuuuuuuu.

Eis que em dado momento Gilgamesh fica doente, acamado e, sobre ele, há apenas um lençol.

Será, meu deus? Será?

Um amigo vai visitá-lo e minha mãe já não se continha mais nela:

- Iiiiiiiiiiiiiih. Esquisito, hein.
- Shhhhhhhh. Pára, mãe.

Ok, a cena simboliza o amor entre os dois amigos e tal... Opa. O amigo parecia preocupado além da conta. O amigo vai puxando o lençol.

Minha mãe e toda discrição que lhe é peculiar:

- HHAHAHAHAHAHAHA. Ele tá pelado. OLHA LÁ, ELE TÁ PELADÃO!
- Tá não, mãe.
- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH

Eu nunca torci tanto pra uma coisa não se materializar como verdade. Eu contraí todos os meus músculos, fiz uma força heróica, quase quebrei a poltrona do teatro. Sabe aquela coisa de pensamento mágico? Eu achei que pudesse dar certo.

O amigo vai puxando o lençol, puxando bem devagarzinho.

Mantra: não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não. NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO.

Puxando, puxando, puxando e... PUXOU!

Mantra2: tudo bem, agora fica deitadinho. DEITADINHO. DEI-TA-DI-NHO. Deitadinho. Deitadinho. Aaaaaaaiiiiii. Por favor, deus, hoje não. Agora, não. Não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não. Com a minha mãe do meu lado rindo e me sacaneando, não. Ai, não. Esse amigo vai se jogar em cima dele. NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO.

E Gilgamesh levanta-se para abraçar apaixonadamente seu amigo. Eu só consegui ver o Luiz Melo nu, nu, nu, peladinho da silva.

Oi, gata. Q tc?


Minha mãe, engraçaralha pra cadinha:

- AEEEEEEEE, VIU HOMEM PELADO!!! HAHAHAHAHAHAH. E AGORA, HEIN! VOU CONTAR PRO SEU IRMÃO QUE VOCÊ QUIS VIR A ESTA PEÇA SÓ PRA VER HOMEM PELADO!!!!

Não consegui articular uma palavrinha sequer. Queria mesmo a terra se abrisse e me engolisse.

Percebam todo o drama que tingiu a minha existência posterior: o primeiro homem que vi nu na vida foi o Luiz Melo, sem poesia, sem romance, sem um whiskinho antes pra relaxar. E eu estava ao lado da minha mãe.

Numa muito boa, não sei até hoje como eu não desenvolvi uma cegueira histérica.

(E o trabalho? Ah, sim. Copiei aquele folheto que eles dão no início da peça... esqueci o nome daquilo)

23.11.08

As coisas que só acontecem comigo: a minhoca de metal

Por razõesóbvias, lembro aos meus caros seis leitores (sim, estamos crescendo!) não pego mais o 638. Na verdade, não pego mais qualquer tipo de veículo de grande porte sobre quatro rodas que carregue mais de cinco pessoas*.

Não tendo muita saída (literalmente), fui obrigada a apelar ao tribunal superior:

- Manhêêêêê, tô com meeeeeeeeedo. Que que eu faço?

E ela, com enfado:

- Ué, pega o trem.
(CARACA! É verdade! O trem! Como eu não pensei nisso antes!)
- Pois é, tão inteligente pra umas coisas e tão burrinha pra outras.
- Eu falei alto?
- Falou.
- Ah, tá. heee

Neste momento, ela começou todo um discurso pró-supervia.

- Blablablablablablablablablablablablablablablablabla 20 minutos daqui até o centro da cidade blablablablablablablablabla
- mãe, o que você acabou de dizer?
- Oi? Que tem um camelô que vende chocol...
- Não, mãe. O lance aí de 20 minutos.
- Ah, é. O direto leva 20 minutos daqui até a central. Mas, peraí, tem o parador também.

Que mané "parador". Não precisei ouvir mais nada. Em transe, peguei a minha bolsa e, com passos seguros, me dirigi à estação. Na verdade, eram passos felizes. Na verdade mesmo, eu devia estar pulando. Ou dando muitas piruetas pela rua. Ou fazendo algum tipo de coreografia com os populares. Ou tudo junto. Por causa de oito palavras, o mundo voltava a ser um lugar legal de habitar. “meu deus, 20 minutos”**.

E ao chegar à plataforma...







- ALÔ, MÃE. NÃO DÁ PRA ENTRAR NISSO.
- Mas eu disse que era pra você pegar o parad...

Espumava de ódio. E quando eu espumo de ódio, me torno uma pessoa muito malvada que desliga o telefone na cara própria mãe. Grrrrr.

Assim. Do tipo. O trem pode até levar vinte minutos para chegar à central. Mas, digamos que, entrar nele contraria todas as leis da física.

Ela me liga de volta.

- Carolina, entra no segundo vagão. É mais vazio.
- Ok.

Lacônica assim mesmo: porque quando eu espumo de ódio eu fico muito, muito, muito malvada... uórrórrórrórrórrórró.

(Patética)

Logo veio outro trem. De fato, o segundo vagão é o mais vazio... Engraçado, né?
E vinha uma musica de lá de dentro. Naquele momento fiquei com ódio de mim mesma. E com vergonha por ser tão mau humorada e amarga. Afinal, puxa vida, eram só vinte minutos e as pessoas estavam tão alegres naquele vagão. E elas moravam mais longe que eu, o que quer dizer que elas enfrentam este troço cheio por muito mais tempo. E comemoram alguma coisa às 8 da manhã! E do que eu estava reclamando mesmo?

Demorei a entender do que se tratava. Depois de uns três segundos, comecei a reconhecer as palavras:

Pai, estou aqui
Olha para mim
Desesperado por mais de ti
A tua presença é o meu sustento
a Tua palavra meu alimento
Preciso ouvir a tua voz dizendo assim

Vem filho amado
Vem em meus braços descansar
Que bem seguro te conduzirei
Ao meu altar
Ali falarei contigo
Com meu amor te envolverei
Quero olhar em teus olhos
Tuas feridas sararei
Vem filho amado
Vem como estás

Pai, meu Pai
Meu papai, Aba Pai

(aba? Meu pai aba? Oi?)

- Mãe, o que que é isso aqui?
- É, ué. Você não queria um vagão vazio?
- Queria...
- Então, neste só vão os evangélicos.
- MEU DEUS
Uma moça gritou alto respondendo ao meu “MEU DEUS”:
- Aleluia, senhor! Irmã, aleluia.
- Opa... hehehe... satisfação, viu?

Fiquei quieta, uma vez que é estampado na minha cara que eu não sou evangélica. Alguns minutos depois, vem um senhorzinho me dar um panfleto do culto. Me estende a mão e me entrega o papel:

- Filha, você está sozinha?

Como todos vocês, seis leitores sagazes , sabem não era uma pergunta inocente. Pelo olhar do velhinho, percebi que ele estava seco para disseminar a palavra do senhor. Então, sagaz, como também sou, respondi:

- Não, não. hehehe... Nunca estou sozinha porque sempre estou com o senhor... anh, anh, pescou?
- Hehehe... Isso aí, filha. Isso aí. Hoje tem culto na Universal do Reino do Senhor e blablablablablablablablablablablabla.
- Ok.


Como são só vinte minutos (de verdade, cronometrado), consegui me livrar da conversão.

E, sim, tenho mais historias de trem. Ô, se tenho.


*Rá, acabei de descobrir porque o Google achou que meu blog venderia caminhões e ônibus no AdSense.
** de ônibus, levo mais de uma hora e meia.

8.11.08

as coisas que só acontecem comigo: e com todos os sagitarianos

Alguém avisa pra Urano, Saturno, Vênus e Plutão sobre meus traços (rá, traços... são quase canyons) obsessivos que impedem que eu simplesmente deixe rolar e queira ter o controle de absolutamente tudo?

Grata.

(se ligaram na belezura de horóscopo? Se ligaram na hora? Maratona Maktub bombaaaaando sábado de manhã!)

6.11.08

As coisas que só acontecem comigo: sejamos honestos, sou uma imbecil


Digo que não acredito em deus e bla bla bla, mas é tudo mentira. Todo santo (anh, anh, pescou?) dia tenho um ritual que se baseia em: conferir meu trânsito astrológico do meu signo solar e do meu ascendente, horóscopo de mais uns três ou quatro que podem interferir no meu, entoar meus mantras, meditar com nag champa jogo tarô on-line, acender uma vela pro meu anjo da guarda e, por fim, abrir o best seller “Minutos de Sabedoria” (o qual tem até uma versão online!).

Aquela maratona Maktub.

Enfim, perco algumas horas da minha manhã percorrendo toda sorte de mandinga a fim de garantir que o efeito-Plutão seja neutralizado*. E, claro, não é. Vocês não acreditam em mim, né? Olhem só a belezura do horóscopo de hoje no Terra:



sacaram que há toda sorte de eufemismos para “a-rrá, urrú, ô sagitariano tá tomando no...”


Além disso, venho me revelando devota fervorosa de São Pedro. Melhor: acho que tenho uma conexão direta com ele e que ele nutre um certo carinho por esta ovelha desgarrada que vos escreve.

Geralmente funciona assim: olho pro céu, vejo nuvens carregadas e oro:

Querido São Pedro das Causas Climáticas e Capilares, fazei com que não chova, uma vez que chovendo, para ser confundida com um poodle faltará apenas o latido. O senhor sabe: o cabelo fofo bomba. E eu não tô podendo. Conto com a sua compreensão. Grata. Amém.


No céu, trombetas do Apocalipse anunciam o fim dos tempos, paira uma leve brisa de 100 km/h. Mas nada disso é importante. O que se deve considerar mesmo é o meu delírio de achar que tenho um Nextel estelar: eu mando um alerta daqui e ele recebe -instantaneamente - de lá. Pri-pri.

Desta forma, num ato supremo de fé e total entrega espiritual, escolho a dedo as roupas que jamais devem ser usadas em dias de chuva: brancas, permeáveis, brancas e permeáveis.

Andar com fé eu vou que a fé não costuma faiá é a vibe.

Certa feita, saí de casa sob tais condições climáticas batendo no peito em Seu Santo Nome: “tô contigo e não abro, São Pedro. Uhuuuuuul”. Peguei o trem e, no meio do caminho, constatei que São Pedro não teve a menor piedade para com sua devota mais fiel.

(pequena pausa: entre os Dez mandamentos, não tem aquele “Não invocar Seu Santo Nome em vão” ? Hummmm)


Pela quantidade de palavrões dirigidos aos seres celestiais, já estava com minha vaga garantida para, futuramente (aaaah, espero, espero muito que seja num futuro beeeeem distante), arder no inferno. Seja cética, recobre seu pragmatismo, moça, afinal há um compromisso te aguardando, ouvi uma voz interna em meio aos palavrões dirigidos internamente à galera-do-espaço-etéreo.

Bom, e agora, o que eu faço? Chegando à Central, encarei o aguaceiro destemida, pois eu sabia que em razão de segundos seria uma espécie de candidata a Garota Camisa Molhada da Gare 2008. Além de toda a baixaria dos pés encharcados e... E o cabelo que se dane a esta altura do campeonato. Ué, gente! Minhas partes pudendas estariam desnudas em questão de segundos...O que mais eu poderia fazer? Tinha que ter cuidado só pra não latir.

Vocês que são íntimos de Deus sabem: ele fecha uma porta e logo abre uma janela. Dou dez passos fora da Central e me deparo com uns trinta e sete vendedores de guarda-chuva. Êêêê!

(segunda pequena pausa. Agora, cá entre nós: gente, eles brotam do chão quando chove? Como na abertura antiga do Fantástico, lembram? Eu fico abismada: é só chover que eles surgem às dezenas na sua frente. Incrível).


Comprei um bem vagabundozinho por módicos 5 reais.

Corri pro ponto. Evidentemente, vocês, meus estimados leitores, não sabem, mas eu sou míope. E não, não uso óculos. Lá chegando, me coloquei num lugar estratégico de modo que não deixasse de ver quando meu ônibus estivesse se aproximando: bem perto da asfalto. Estava bem distraída, pensando que tudo podia dar errado, mas eu estava ali, apesar de toda ira celestial e, mais importante, chegaria ao meu compromisso pontualmente. Caótica, mas na hora. Pedi perdão a São Pedro e agradeci a graça alcançada.

Não adiantou nada, uma vez que passados mais ou menos 2 minutos, um motorista de ônibus sem Jesus no coração passou numa poça e jogou lama em mim.

Plutão, você é um fanfarrão.

Coberta de lama e com o cabelo já flertando com o poodle-estaile, não me restava outra alternativa senão voltar pra casa.

Assim seja.


(*Ó, avisinho. Capricornianos, preparem-se. A trolha astral vai no foiote de vocês a partir de novembro. Os astrólogos dirão que vai ser legal porque será uma fase de renovação. Mentira. É puro eufemismo barato pra “iááááááá, se f&$¨%de aí” e são 13 anos de transito de Plutão em casa signo, tá?)

23.10.08

As coisas que só acontecem comigo: príncipe iorubá


E lá estava eu no 638 novamente. É aquela coisa toda de recalcar.
Primeira pausa.

Caro leitor, eu sei eu você não tem a menor obrigação de saber o que é o recalcado. Segue uma explicação em bom português.

Ei-la:

Recalcar é simplesmente não querer saber de determinada coisa. Manja quando criança, ao tomar esporro dos pais, coloca as mãos no ouvidos e canta “la la la la la laaaaa, eu não to ouvindo mais!! La la la la la la la la”. Recalcar é isso.

Só que não fica por aí, claro. O recalcado volta.E volta que volta que volta quicando: justamente como a palmada da mãe seguida do castigo do pai.


Voltemos à narrativa.

Eu recalquei o assalto que tinha ocorrido na segunda feira porque eu achava, até então, que o estimado 638 fosse o único meio de transporte para voltar de um glorioso e edificante dia de trabalho. Ele reinava absoluto no meu direito de ir e vir. E, além do mais, minha avó sempre dizia que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Então. Eu acredito nela. De qualquer modo, eu estava mais ligada no lance: nada de ouvir MP3 no ônibus. (uau!)

Perto do Engenho Novo, adentra o ônibus um espécime em extinção. Negro, alto, forte, de cavanhaque, pulseirona de prata mega-estaile: aquilo tudo era um príncipe iorubá. E eu sou chegada numa baianidade nagô*.

Havia uns seis passageiros no ônibus. Com o piloto e o trocador, éramos oito. Com o príncipe do Congo, nove. Ou seja: tinha lugar pra dedéu sobrando. Droga. O ônibus bem que podia estar mais cheio e aí ele se sentaria ao meu lado, eu puxaria assunto. Oi, quer ser meu amigo? Eu sou bonitinha. Tem orkut? Me dá seu msn? Me olha, me olha! ME OLHA!

Vossa Alteza cagou toneladas e se sentou lá atrás.

Abstraí porque eu sou boa em lidar com rejeição desde a minha adolescência, quando era uma espécie de sósia da Frida Kahlo mais bem nutrida.

Passados uns três minutos, ele vai à frente do ônibus e se dirige ao motorista.

- Ei, motorista, PARA O ÔNIBUS.

Ih, pegou errado. Droga, pensei

Bom, ele se vira com os olhos injetados de sangue para os passageiros.

- AGORA TODO MUNDO QUIETINHO.

Plutão, você só pode estar de brinks. E mais uma vez, eu estava quietinha e não me preparando pro ensaio da timbalada. Essa tradição oral de roubos é um saco. Sempre o mesmo roteiro. Sempre...

- TODO MUNDO OLHANDO PRO CHÃO. MOTORISTA, QUÉ MORRÊ? VAI DEVAGAR. VAI DE-VA-GAR.

É, Sua Majestade senegalesa era um assaltante.

- VAI, TODO MUNDO DE CABEÇA BAIXA, OLHANDO PRO CHÃO. VAI, AI, VAI. PASSA O DINHEIRO.

Segunda pausa.

Sabe, leitor, eu sou uma pessoa dada a seguir ordens. Desde bem pequena sou assim: “carol, faz isso”. E eu faço isso com o maior prazer, risonha, toda alegrinha. Hoje, talvez, eu possa questionar caso seja alguma coisa realmente esdrúxula. Mas, tenham absoluta certeza, que mesmo que não faça, a vontade fica latente.

Sempre fui chegada num imperativo.

Atentem o detalhe: o príncipe-assaltante-camaronês deu quatro ordens num espaço de cinco segundos. Ficar quieta, ir, abaixar a cabeça e pegar o dinheiro. É claro que eu me perdi. Ou bem fico quieta, ou bem vou, ou bem olho pro chão, ou bem cato o dinheiro na carteira.

Vamos otimizar o uso do imperativo. Você tá nervoso, vossa-alteza-nígero-congolesa? Pode acreditar que nós, as vítimas, estamos 7645 vezes mais. Decida-se: ou ficamos quietos ou vamos ou olhamos para o chão ou pegamos o dinheiro.

Humf.


Voltemos.

Neste meio tempo em que ele se decidia se queria que ficássemos quietos, fôssemos, olhássemos pro chão, pegássemos o dinheiro, se o motorista andasse devagar ou parasse de vez o coletivo, lembrei do meu celular novinho em folha.

Ah, não. Outro, não. Este, não.

Num lampejo de clareza do pensamento, quando ele se virou para dar mais umas quatro ou cinco ordens paradoxais ao motorista, eu sentei no celular. É, gente. Eu desobedeci o assaltante, peguei meu celular novo em folha na bolsa, me levantei e sentei nele, sem piedade.

Eu sentei no meu celular com toda esta circunferência de quadril, sim. Antes quebrado a roubado.

O mantra deixou de ser “vai embora logo” e passou a ser “não toca não toca não toca não toca”.

Ok, trânsito engarrafado e esta droga de assalto não vai terminar nunca mais.

Ops, não era engarrafamento. Era uma blitz. Remake do ônibus 174, não.

E eu não podia ver nada, afinal eu ainda estava com a cabeça baixa (eu disse que eu obediente... eu disse, eu disse).

- MOTORISTA, PARA O ONIBUS. TU TÁ QUERENDO MORRÊ?

O príncipe do Egito ficou tenso. Bem tenso.

Escutei um barulho forte. Olhei de soslaio. Ele tinha pulado a roleta.

Hum, duas chances: ou ele toma o motorista como refém e eu tenho uma síncope ou ele vai embora, eu posso pegar meu celular que estava embaixo da minha abundância glútea e paro de entoar mentalmente o mantra “não toca não toca não toca”. E por que esta anta do motorista não para logo este ônibus? Eu disse que tinha respeito pelos motoristas do 638, né? Perdi.

O motorista, enfim, parou o ônibus e a vossa alteza angolana foi embora... assaltar o ônibus de trás. Inacreditável a cara-de-pau do cidadão.

Como bons suburbanos que somos, além de confraternizarmos no pós-trauma, ao passarmos pela blitz**, gritamos todos juntos para os policiais que tinha um assaltante no outro ônibus. Éramos oito gritando coisas distintas ao mesmo tempo, o que tornava o depoimento incompreensível.

Eles não pegaram o assaltante, como já era previsível.

E eu não ando mais de 638. O que também já era previsível. :D


** o policial era bem gato. Aquela coisa toda de segurar o fuzil e tal...
* o que me faz crer que eu curto uma baianidade nagô, uma paulistada desvairada, uma carioquice suingue sangue bom, um porto-alegrense barbadinha, um curitibano daííí... Ou seja: se for XY tô avaliando a possibilidade, uma vez que não tenho mais critério, eu tenho pressa.

21.10.08

As coisas que só acontecem comigo: mendigaria

O meu trânsito astrológico não está colaborando este ano: é o retorno de saturno, é plutão, que nem planeta é mais e que se encontra em sagitário até novembro (desde de 1995, li em algum lugar. já vai tarde, enfim!) pra continuar bagunçando o coreto. E o que isso quer dizer? O que macunaíma dizia: que urubu quando está cagado, o de baixo consegue cagar no de cima.

Darei carga dramática à cena.

Estava eu, feliz e faceira, ouvindo música e pensando na vida (que são meus passatempos prediletos) voltando da minha formação, às 22h30, no 638, linha que liga a Pça Saens Peña ao respeitoso bairro de Marechal Hermes.

Sim, ser piloto de um 638 exige nobreza d’alma. Eu respeito. Tanto que, se você é um leitor atento, percebeu que eu usei a palavra piloto em vez de motorista. Pescou, pescou?

Eis que no final da avenida suburbana, duas moçoilas entram no veículo. Estava tão capturada pela voz da Amy Winehouse das antigas que nem dei muita trela. Recomendo Know you now. É algo.

Havia apenas 7 pessoas no ônibus. Com o piloto (rá) e o trocador, éramos 9. Com as duas, 11. Ou seja, tinha lugar pra dedéu sobrando. Uma delas senta-se ao meu lado. Estranhei. Será que essa moça é tão fissurada assim no banco alto? Mas tem dois ali do outro lado, ó, vaziinhos! Hummm... Será que ela quer ser minha amiga? Será que ela só quer se aquecer numa noite fresca de inverno? Será que me achou bonitinha?

O piloto finalmente entrou em Cascadura. Engraçado, não sei porque, mas este nome sempre me lembrou barata. Eu, hein. Enfim. Vi que a moça olhou pra mim e começou a articular umas palavras. Tive que usar a técnica da leitura labial porque como eu já disse, a Amy estava bombando no meu tímpano. "Oi, você está no orkut?". Opa. Não, não era isso.


- Fica quietinha senão eu vou te esculachar.

Gente, mas eu estava quietinha. Juro. Se eu tivesse ensaiando o "vem qui vem qui vem quicando" (recomendo abaixar o som) , ok.
De qualquer maneira, confesso que a linguagem dos populares me toca.

- Agora passa o telefone.

Opa, tá na mão.

- Agora me dá todo dinheiro que você tem na sua carteira.

Se a minha vida depender disso, adeus mundo, pensei.

- Olha só, eu só tenho 2 reais.

Abri a carteira e jazia solitária a tal nota.

- Você quer? (afinal, perguntar não ofende)

Vi que ela titubeou. Porque naquela circunstância era igual a bater em cego. Se ela aceita, é mendigaria demais. Se não aceita, perde a moral comigo. Como poderia ser resto da abordagem?


Ela pegou os dois reais. Me deu uma vontade quase incontrolável de dizer "Iááááá, tá pior que eu!". Disse "quase".

- Nem pensa nisso, hein. Fecha logo esta janela.
- ANH?

Será que ela achou realmente que eu ia me jogar pela janela? Pior: será que ela achou que meu quadril passaria por aquela fresta? Nem quando eu tinha 11 anos, moça. Fica tranqüila.

- Cadê? Tem mais dinheiro aí que eu sei.

Hahahahahahahahahah. Não, moça, não tem e você acabou de cair na pegadinha do Mallandro!!!

- Tem estas moedinhas aqui, quer? (Desmoralizar ladras é meu terceiro passatempo predileto)

- Não, não... Pode ficar... Tá. Agora... é... hummmmm... AGORA TIRA O ANEL.

- Esse anel aqui eu comprei na feirinha.

- Tira-o-anel.

Tirei. Ele me custou módicos 8,50.

Aí ela desistiu de mim, porque percebeu que meu celular era a melhor coisa que eu tinha no momento. Eu tinha o Seminário 15 do Lacan. Mas aí eu é que ia esculachar. E o melhor é que eu não paguei nem 1 realzinho pelo celular. Ou seja, a moça me tirou a incrível quantia de ... tchanaamaaaam 10,50. Não dá nem pra um lanche do Mc Donalds.

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(repostando, porque vai ter a continuação! :D)

8.10.08

As coisas que só acontecem comigo: lou lou da pomerânia.

Eu ainda estava na graduação e tinha uma bolsa de iniciação científica do CNPq. Ou seja, eu não era ninguém, nada, coisa nenhuma, mas deveria levar uns artigos ao escritório do CNPq e isso me fazia com que eu me sentisse bem importante. Incrível como eu era arrogante sem perceber. Pior: devo ser ainda.

O artigo era pra concorrer ao melhor trabalho do ano (ou alguma coisa similar) e o prêmio era uma super bolada. Papo de uns dois mil reais. Sim, naquela época eu achava que essa bolada me levaria à Paris, por exemplo. No máximo à Canoa Quebrada, anjo. E dê-se por feliz. E achava que era tanto dinheiro que eu supunha que eu tivesse que entregar o tal artigo vestida como A campeã. Aquela coisa de assustar os concorrentes. Na época eu trabalhava a transferência em análise com Antígona, a tragédia. Jesus, como eu era criativa. E não, eu não fumava o cigarrinho do capeta. Não fumo ainda hoje pros engraçadinhos que pensaram "mas hoje, nééé".

Fui pra Ilha do Fundão como quem vai a um jantar de negócios: uma pasta cheia de livros e papéis (que estava pesada, inclusive), blusa preta, calça vinho, cabelo escovado, maquiagem leve e, evidente, salto agulha. Queridos três leitores, a Ilha ser do Fundão não é gratuitamente. A conclusão de que tudo nesta vida tem sua razão de ser se torna mais verdadeira a cada vez em que é colocada em prova.

Peguei o 910, linha de ônibus que deveria entrar no Guiness Book como o veículo de passageiros que, numa mesma viagem, atravessa o maior número de lugares perigosos do mundo: Vaz Lobo, Penha, Brás de Pina, Ramos, Olaria, Avenida Brasil e Linha Vermelha (trecho do complexo da Maré). Naquela época Plutão não tinha dado as caras no meu mapa astral e eu achava que o mundo era cor de rosa e que as paredes das casas eram feitas de waffers. Fui, sem temor nem piedade (aproveitando o gancho de Antígona e tal...).

Cheguei ao Fundão um tanto suada e esbaforida, já que era mais ou menos meio dia do verão carioca. O portal do inferno, para os íntimos. Porém, naquele momento, o que de fato importava era que escova e a maquiagem estavam ainda intactas. Viva, vou arrasar! Concorrentes, me aguardem. A sala do CNPq fica no prédio da reitoria que, por motivos estratégicos, é no fundão do Fundão. É a mesma lógica que faz de Brasília a nossa capital federal. Então, tive que pegar um outro ônibus dentro na UFRJ.

Saltei do cata-corno-federal na lateral da reitoria. Parei. Olhei. Entre mim e o prédio havia um pântano. E entre mim e o pântano, um salto agulha. Ok, sem desespero. Nem tudo está perdido, pensei. Meus concorrentes hão de ver que eu andei na lama antes de chegar aqui. O que me dá todo um caráter de bravura e coragem. Sim, caríssimos, sou uma guerreira. Enchi os pulmões de oxigênio e alguma outra coisa sulfúrica que tinha o ar dali (que me deu até uma certa onda, admito).

Montei minha estratégia: andar rápido só com ponta dos pés, uma vez que se o salto entrasse na lama, a probabilidade de eu cair seria exponencialmente aumentada. Além disso, se eu andasse devagar, com toda graça e a malemolência que me são peculiares, certamente a lama ia chegar no meu queixo e, além disso, também me ocorreu um certo temor de que ali surgissem caranguejos e restos humanos em geral.

Em plena corrida pelo mangue, percebi que havia um cachorrinho me olhando. Olhar fixo, intrigado. Era bem pequenininho, do tamanho de um Lou lou da Pomerânia. Ele me encarava, deitadinho embaixo de uma árvore. Isso mesmo, cachorrinho, há mais razões para nós, humanos, termos dominado o mundo do que supõe sua vã filosofia: nós sabemos, por exemplo, andar na lama com saltos finos.

O estranho é que ele começou a rosnar sem um motivo aparente. Lá de longe mesmo. Só que eu continuava andando rápido na ponta dos pés e na lama e ele me encarando e eu me aproximando e ele rosnando e ops, uns filhotes ah, que bonitinho, filhotes de pseudo-lou lous-da-pomerania!!

Neste momento, me faltavam dois metros para alcançar o cãozinho. Que continuava rosnando. Que começou a latir. Que se levantou. Que era uma cadela. Que protegia a cria. Que rosnava e latia. Que, opa, começou a correr pra me pegar.

É.

Em milésimos de segundo, cada axônio dos meus sistemas nervosos central-periférico-simpático-e-parassimpático foi tomado por todo peso do instinto de sobrevivência, aquele mesmo que garantiu que à minha linhagem erectus não se extinguisse há alguns milhares de anos.

Sim, eu sei, estamos no topo da cadeia alimentar, que era só uma dar um chute e a lou lou voaria longe e bla bla bla bla. Entretanto, aquela féla de uma rapariga corria atrás de mim com a intenção nefasta de morder a barra da minha calça. Ah, não. Rasgar a minha calça já é demais. Basta o meu bico fino/salto agulha enterrado na lama (já havia esquecido minha tática há muito, muito, muuuuuuuito tempo).


Gritei (aaaaaaaaaaaaah!!! Sai cachorro, sai, sai, sai, sai).

Corri da cadela. (aaaaaaaaaaaaah!!! Sai cachorro, sai, sai, sai, sai).


Corri da cadela no meio do pântano vestida como A campeã e com platéia, uma vez que o prédio da reitoria é o prédio de arquitetura e de belas artes. Era meio dia, lembram? Horário de almoço de alunos, professores e toda sorte de funcionários.

Depois de quinze metros de corrida e alguns de alguns decibéis, a lou lou do pântano deve ter se tocado que minha intenção não era roubar sua cria. Mas isso já não importava muito. Aliás, não importava nem um pouco. Eu já estava suada, o que fazia com que minha maquiagem tivesse derretido e eu me assemelhasse a um panda de gloss. Além disso, minha escova estava desfeita, meus pés cheios de lama. A catástrofe só não foi total porque eu tive o bom senso de colocar uma blusa preta e, deste modo, o resto do mundo não era obrigado a constatar a pizza no sovaco que tinha se formado com a corrida pela sobrevivência.

Pra vocês se aproximarem do tamanho da catástrofe, a moça que recebia os trabalhos me ofereceu água e perguntou se estava tudo bem, que era só pra entregar e que eu não seria argüida ali sobre meu trabalho. Rá, rá, rá. Antes fosse, meu bem. Mas eu não conseguia ainda articular palavras. Estava tremendo. Só pude sorrir e aceitar a água.

E, não, não ganhei a bolada.

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Para pedro e caio, que me torarram a paciência pra voltar e escrever sobre minhas derrotas. :)
Amo vocês!