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16.2.09

Gaitice II

As duas haviam ido ao teatro e, sem seguida, passaram na Fiorentina, pizzaria famosa aqui do Rio. Aquela mesma que artistas, atletas, políticos, jornalistas e blablablablabla frequentam. 

Elas sentam-se, pedem chopp e pizza. De repente,  uma se levanta.

- Vou ali falar com o Sérgio Cabral, tá?

A outra, assustada, responde:

- Tá... Mas... você vai falar o que mesmo com o governador do Rio?

- Não vou falar nada, não. Vou mostrar meu contra-cheque.

E, claro, a que levantou é mãe do meu amigo gaiato. E a assustada é a minha mãe. 

E, sim, ela foi falar com o governador.




28.1.09

No msn

Ele: Carol.
Fazer uma pergunta super aleatória.
Que é provável que você, humana como eu, não saiba responder.
Mas, sabe quando você conhece alg. e dá aquela vontade absurda de falar com a pessoa, ligar, ver, e blá? Como não sentir isso?

Eu: sei, sei. Saudade gratuita. Tomar rivotril ajuda.

Ele: Maldita hora que eu resolvi, as três da matina, pegar aquele ônibus nojento e ir naquela festa.Tudo que podia dar errado pra eu ir na festa deu. E eu não desisiti. Sabe - eu ontem demorei muito pra chegar na festa. Cheguei, já estavam todos bêbados. Eu tinha suado, tava meio pra baixo pelos ocorridos, mas cheguei lá. Quando eu tava indo embora, cruzei. Olhamos e tal. E rolou a infame pergunta - quer uma carona? Eu nem sabia pra onde tava indo, mas disse - , beleza. E fui. No carro, apesar da aventura toda - nossa, como você tá cheiroso. Sabe. Eu uso o perfume sempre. O fixador dele é bom, e tal. Mas, naquela altura do campenato, já era pra ele ter evaporado, e o suor tomado conta de mim. Ironicamente, não. Eu realmente estava. Assim - tudo foi foda. E não tenho muita gente pra comentar sobre isso. Ninguém acredita que eu tenho sentimentos nesse aspecto. (Opção 2 - parece musica de Pagode - opção uuuuuuum, você resolve bla bla bla). Eu não acostumado com essa vulnerabilidade. Sempre com as duas patinhas no chão, ficando por ali, casual sex por ali, e a vida feliz e contente. Papo que se falar agora - vem pra cá tomar um sorvete e fumar um cigarro - eu trocar de roupa, pegar um taxi e ir. Mesmo tendo zilhões de coisas pra fazer amanhã. Cara - foram menos de duas horas. Não se apaixona em menos de duas horas, vai? Não no elenco de Malhação. hahaha ou - acontece mesmo. Mas se nunca ficar, não vai saber o gosto que tem.É aquela frase que você tem - é de se entregar o viver. E é mesmo. Mas, puta, com tanta coisa com o que se preocupar. Vem uma coisinha do nada, e tira a importância do resto. E te deixa o dia plantado do lado do telefone.Gente, pareço uma menina de doze anos. Homens evitam essas coisas. Eu não ligo muito. sentindo mesmo, fiquei esperando mesmo, então - foda-se. Assumir para si o que esta acontecendo com você é um bom passo. Em todos os sentidos. Que vontade de correr pelado na Av. das Américas. (não posso correr lá - é a moradia e a porta do meu trabalho). Perder o emprego e a possibilidade. (...) Pra você ver - puxando só um pouco - já rolou moh fofoquinha porque eu faço terapia. Cara - na boa. Momento família, relacionamento, etc. Daqui a pouco a gente discutirá a miséria na África. Eu nunca ouvi falarem nada de ti. Até porque você tá sempre de boa, na sua. Não é porra louca que nem eu. Eu quando fumei maconha pela primeira vez, sentei na sala, e falei, gente - tenho fumado maconha. E propagou. E virei o bob marley. Posso ser extremamente piegas, escroto, idiota, fanfarrão (roubei a palavra), e todos adjetivos nessa linha? Assim é o extase da vergonha. Delicie-se com esse momento, porque ele é único. Eu peguei as alianças dos meus pais (que eles me deram, eles acreditam que o bom Deus me fará casar na igreja algum dia), e to usando uma. HAHAHAHHA Eu juro. Vergonha alheia de mim. Mas eu achei legal. HAHAHAHA Me deu vontade. E assim - é o tipo de vontade que não se conta - pela ridicularidade do fato em si. Mas...Caralho. Lendo, escrevendo, e pensando logicamente - eu sou o cara MAIS babaca do mundo.HAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHHA. "oi, te conheci ontem, e por algum motivo doentio, me deu vontade de usar a aliança do meu pai, assim, sozinho, pra manter o compromisso sabe? Meu comigo mesmo, tendo em vista que nem ligar hoje você ligou, e só foi atender o telefone a noite."HAHAHAHHAHAHA. Tirei, guardei. Esconderei. E esse momento jamais terá acontecido na minha vida. Se espíritos ficam me olhando a noite, eles tem inspiração mil. Se eu morrer agora, serei o mais gongado do outro lado. Estou com mais medo de morrer pela gongação momentânea do que pela morte em si. Eles me zoarão muito. Eles veem coisas que putz. Eu recebendo o Nobel de Literatura e agradecendo - apesar de ser clichê fazer no banheiro tomando banho, certa vez eu realmente me emocionei nos agradecimentos e chorei. HAHAHA. Mas todo mundo já fez o comercial do pantene tirando a toalha da cabeça e sacudindo o cabelo, vai. Ai... Eu tamém imagino que no BBB. Às vezes eu treino como tirar a toalha sem ficar pelado em frente as cameras._alá o maluco que fica falando sozinho no banheiro. Eu toco guitarra imaginária também. Eu canto em inglês mesmo quando não sei a letra. Crio diálogos com meu chefe - pra justificar quaisquer erros futuros, enfim... Eu iria endoidar. Primeiro que não conseguiria gritar - aaaaaaaaa ala meu pai, beijo pai, minha mae, beijo mae, carol veio, cara, a bete, o paulo o ju.. beijo ju, a dani, puuuutz, marivalda, dani, carlos, cadu...Quando eu tivesse no paredão. Não consigo cagar na casa dos meus amigos de anos. Imagina cagar numa casa cheia de gente bonita e com zilhões de cameras.

_______________

Quando eu me escangalho de rir, não consigo digitar. 


22.1.09

Gaiatices

O telefone de Fulano* toca.

- Oi, Fulano!
- Fala aí, rapá!
- Vem cá, tava querendo ir à roda gigante hoje. Tem como?
- Claro... quantos ingressos são?
- Eu, minha mulher e minha sogra.
- Beleza, chega aí!
- Brigadão, cara.

...

- Fulano, chegamos!
- To indo aí.

...




- Marisa, este aqui é o Fulano! 
- Noooooossa,  você é muito famoso lá em casa! Cicrano-meu-marido fala sempre de você! "Deixa que o Fulano resolve isso. Vou ligar pro Fulano, que Fulano é descolado"! Já te conheço só dele falar!

E Fulano, meu amigo, responde:

- Hummmm... e seu rosto também não me é estranho... hahahaha












Mano Wladimir ficou em casa desta vez.

*Amo meus amigos gaiatos. Aliás, amo esta palavra. Gaiato. Vou passar a usa-la.


16.1.09

Pequeno diálogo entre duas moças numa tarde no Leblon

- O fulano é interessantíssimo!
- Ah, é?
- É. Meu professsor de oboé. Tem 38 anos, gente boa, sensível...
-Solteiro?
- Siiiiim!
- É gay.
- Não é, não! E olha, vou te falar: é super conservado: não fuma, não bebe. Vive pedalando de um lado pro outro, é todo natureba, não come carne vermelha...
- Um chato, você quer dizer.


25.11.08

Eu avisei.




Amo os eufemismos pra trolha astral. Amo.
Ó, e são 13 anos, tá?

18.11.08

As vicissitudes de uma tarde no MSN

Ele: acho que nunca desejei tanto que as férias chegassem.
Eu: eu tb querio ferias, mas remuneradas
Ele: eu também. mas já tô aceitando as grátis.
Eu: HAHAHAHAH
Ele: tô ganhando nada pra estudar também.ganhando nada por ganhando nada, melhor de férias.
Eu: hehehee
Ele: não é?
Eu: com certeeeeeeeeeeza (estilo beto jamaica)
Ele: por falar em beto jamaica, ficou sabendo que o compadre washington fez um filme pornô?
Eu: AH, NÃO! serio????
Ele: sério! imagina! hahahahaha
Eu:Imaginar? Não, passo.
Ele:hahahahaha
Eu: é verdade
Ele: deve ser bizarro.
Eu: deve? com certeza é.imagina, lá na hora H, ele falando Tchutchutchutchupááááá
Eu: pelamordedeus
Ele: hhahahahahaha
Ele:"ordinááária"... rs
Ele: só faltava o vídeo ser com a carla perez. hahaha
Eu: ia ser lindo
Eu: mas podia ser com a lacraia, que tb fez um filme pornô
Ele: sério?
Eu: aliás, ia ser legal se todas estas sub celebridades fizessem um filme porno juntas
Ele: argh!
Ele: acho que essa da lacraia deve ser pior do que a do compadre washington, da gretchen e da rita cadilac juntos.
Eu: ah, nao sei
Eu: tem o frota tb
Ele: mas a (?) lacraia já é escrota por si só.
Ele: de roupa.
Ele: imagina num pornô.
Eu: HAAHAHAHAHAHA

23.10.08

As coisas que só acontecem comigo: príncipe iorubá


E lá estava eu no 638 novamente. É aquela coisa toda de recalcar.
Primeira pausa.

Caro leitor, eu sei eu você não tem a menor obrigação de saber o que é o recalcado. Segue uma explicação em bom português.

Ei-la:

Recalcar é simplesmente não querer saber de determinada coisa. Manja quando criança, ao tomar esporro dos pais, coloca as mãos no ouvidos e canta “la la la la la laaaaa, eu não to ouvindo mais!! La la la la la la la la”. Recalcar é isso.

Só que não fica por aí, claro. O recalcado volta.E volta que volta que volta quicando: justamente como a palmada da mãe seguida do castigo do pai.


Voltemos à narrativa.

Eu recalquei o assalto que tinha ocorrido na segunda feira porque eu achava, até então, que o estimado 638 fosse o único meio de transporte para voltar de um glorioso e edificante dia de trabalho. Ele reinava absoluto no meu direito de ir e vir. E, além do mais, minha avó sempre dizia que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Então. Eu acredito nela. De qualquer modo, eu estava mais ligada no lance: nada de ouvir MP3 no ônibus. (uau!)

Perto do Engenho Novo, adentra o ônibus um espécime em extinção. Negro, alto, forte, de cavanhaque, pulseirona de prata mega-estaile: aquilo tudo era um príncipe iorubá. E eu sou chegada numa baianidade nagô*.

Havia uns seis passageiros no ônibus. Com o piloto e o trocador, éramos oito. Com o príncipe do Congo, nove. Ou seja: tinha lugar pra dedéu sobrando. Droga. O ônibus bem que podia estar mais cheio e aí ele se sentaria ao meu lado, eu puxaria assunto. Oi, quer ser meu amigo? Eu sou bonitinha. Tem orkut? Me dá seu msn? Me olha, me olha! ME OLHA!

Vossa Alteza cagou toneladas e se sentou lá atrás.

Abstraí porque eu sou boa em lidar com rejeição desde a minha adolescência, quando era uma espécie de sósia da Frida Kahlo mais bem nutrida.

Passados uns três minutos, ele vai à frente do ônibus e se dirige ao motorista.

- Ei, motorista, PARA O ÔNIBUS.

Ih, pegou errado. Droga, pensei

Bom, ele se vira com os olhos injetados de sangue para os passageiros.

- AGORA TODO MUNDO QUIETINHO.

Plutão, você só pode estar de brinks. E mais uma vez, eu estava quietinha e não me preparando pro ensaio da timbalada. Essa tradição oral de roubos é um saco. Sempre o mesmo roteiro. Sempre...

- TODO MUNDO OLHANDO PRO CHÃO. MOTORISTA, QUÉ MORRÊ? VAI DEVAGAR. VAI DE-VA-GAR.

É, Sua Majestade senegalesa era um assaltante.

- VAI, TODO MUNDO DE CABEÇA BAIXA, OLHANDO PRO CHÃO. VAI, AI, VAI. PASSA O DINHEIRO.

Segunda pausa.

Sabe, leitor, eu sou uma pessoa dada a seguir ordens. Desde bem pequena sou assim: “carol, faz isso”. E eu faço isso com o maior prazer, risonha, toda alegrinha. Hoje, talvez, eu possa questionar caso seja alguma coisa realmente esdrúxula. Mas, tenham absoluta certeza, que mesmo que não faça, a vontade fica latente.

Sempre fui chegada num imperativo.

Atentem o detalhe: o príncipe-assaltante-camaronês deu quatro ordens num espaço de cinco segundos. Ficar quieta, ir, abaixar a cabeça e pegar o dinheiro. É claro que eu me perdi. Ou bem fico quieta, ou bem vou, ou bem olho pro chão, ou bem cato o dinheiro na carteira.

Vamos otimizar o uso do imperativo. Você tá nervoso, vossa-alteza-nígero-congolesa? Pode acreditar que nós, as vítimas, estamos 7645 vezes mais. Decida-se: ou ficamos quietos ou vamos ou olhamos para o chão ou pegamos o dinheiro.

Humf.


Voltemos.

Neste meio tempo em que ele se decidia se queria que ficássemos quietos, fôssemos, olhássemos pro chão, pegássemos o dinheiro, se o motorista andasse devagar ou parasse de vez o coletivo, lembrei do meu celular novinho em folha.

Ah, não. Outro, não. Este, não.

Num lampejo de clareza do pensamento, quando ele se virou para dar mais umas quatro ou cinco ordens paradoxais ao motorista, eu sentei no celular. É, gente. Eu desobedeci o assaltante, peguei meu celular novo em folha na bolsa, me levantei e sentei nele, sem piedade.

Eu sentei no meu celular com toda esta circunferência de quadril, sim. Antes quebrado a roubado.

O mantra deixou de ser “vai embora logo” e passou a ser “não toca não toca não toca não toca”.

Ok, trânsito engarrafado e esta droga de assalto não vai terminar nunca mais.

Ops, não era engarrafamento. Era uma blitz. Remake do ônibus 174, não.

E eu não podia ver nada, afinal eu ainda estava com a cabeça baixa (eu disse que eu obediente... eu disse, eu disse).

- MOTORISTA, PARA O ONIBUS. TU TÁ QUERENDO MORRÊ?

O príncipe do Egito ficou tenso. Bem tenso.

Escutei um barulho forte. Olhei de soslaio. Ele tinha pulado a roleta.

Hum, duas chances: ou ele toma o motorista como refém e eu tenho uma síncope ou ele vai embora, eu posso pegar meu celular que estava embaixo da minha abundância glútea e paro de entoar mentalmente o mantra “não toca não toca não toca”. E por que esta anta do motorista não para logo este ônibus? Eu disse que tinha respeito pelos motoristas do 638, né? Perdi.

O motorista, enfim, parou o ônibus e a vossa alteza angolana foi embora... assaltar o ônibus de trás. Inacreditável a cara-de-pau do cidadão.

Como bons suburbanos que somos, além de confraternizarmos no pós-trauma, ao passarmos pela blitz**, gritamos todos juntos para os policiais que tinha um assaltante no outro ônibus. Éramos oito gritando coisas distintas ao mesmo tempo, o que tornava o depoimento incompreensível.

Eles não pegaram o assaltante, como já era previsível.

E eu não ando mais de 638. O que também já era previsível. :D


** o policial era bem gato. Aquela coisa toda de segurar o fuzil e tal...
* o que me faz crer que eu curto uma baianidade nagô, uma paulistada desvairada, uma carioquice suingue sangue bom, um porto-alegrense barbadinha, um curitibano daííí... Ou seja: se for XY tô avaliando a possibilidade, uma vez que não tenho mais critério, eu tenho pressa.

21.10.08

As coisas que só acontecem comigo: mendigaria

O meu trânsito astrológico não está colaborando este ano: é o retorno de saturno, é plutão, que nem planeta é mais e que se encontra em sagitário até novembro (desde de 1995, li em algum lugar. já vai tarde, enfim!) pra continuar bagunçando o coreto. E o que isso quer dizer? O que macunaíma dizia: que urubu quando está cagado, o de baixo consegue cagar no de cima.

Darei carga dramática à cena.

Estava eu, feliz e faceira, ouvindo música e pensando na vida (que são meus passatempos prediletos) voltando da minha formação, às 22h30, no 638, linha que liga a Pça Saens Peña ao respeitoso bairro de Marechal Hermes.

Sim, ser piloto de um 638 exige nobreza d’alma. Eu respeito. Tanto que, se você é um leitor atento, percebeu que eu usei a palavra piloto em vez de motorista. Pescou, pescou?

Eis que no final da avenida suburbana, duas moçoilas entram no veículo. Estava tão capturada pela voz da Amy Winehouse das antigas que nem dei muita trela. Recomendo Know you now. É algo.

Havia apenas 7 pessoas no ônibus. Com o piloto (rá) e o trocador, éramos 9. Com as duas, 11. Ou seja, tinha lugar pra dedéu sobrando. Uma delas senta-se ao meu lado. Estranhei. Será que essa moça é tão fissurada assim no banco alto? Mas tem dois ali do outro lado, ó, vaziinhos! Hummm... Será que ela quer ser minha amiga? Será que ela só quer se aquecer numa noite fresca de inverno? Será que me achou bonitinha?

O piloto finalmente entrou em Cascadura. Engraçado, não sei porque, mas este nome sempre me lembrou barata. Eu, hein. Enfim. Vi que a moça olhou pra mim e começou a articular umas palavras. Tive que usar a técnica da leitura labial porque como eu já disse, a Amy estava bombando no meu tímpano. "Oi, você está no orkut?". Opa. Não, não era isso.


- Fica quietinha senão eu vou te esculachar.

Gente, mas eu estava quietinha. Juro. Se eu tivesse ensaiando o "vem qui vem qui vem quicando" (recomendo abaixar o som) , ok.
De qualquer maneira, confesso que a linguagem dos populares me toca.

- Agora passa o telefone.

Opa, tá na mão.

- Agora me dá todo dinheiro que você tem na sua carteira.

Se a minha vida depender disso, adeus mundo, pensei.

- Olha só, eu só tenho 2 reais.

Abri a carteira e jazia solitária a tal nota.

- Você quer? (afinal, perguntar não ofende)

Vi que ela titubeou. Porque naquela circunstância era igual a bater em cego. Se ela aceita, é mendigaria demais. Se não aceita, perde a moral comigo. Como poderia ser resto da abordagem?


Ela pegou os dois reais. Me deu uma vontade quase incontrolável de dizer "Iááááá, tá pior que eu!". Disse "quase".

- Nem pensa nisso, hein. Fecha logo esta janela.
- ANH?

Será que ela achou realmente que eu ia me jogar pela janela? Pior: será que ela achou que meu quadril passaria por aquela fresta? Nem quando eu tinha 11 anos, moça. Fica tranqüila.

- Cadê? Tem mais dinheiro aí que eu sei.

Hahahahahahahahahah. Não, moça, não tem e você acabou de cair na pegadinha do Mallandro!!!

- Tem estas moedinhas aqui, quer? (Desmoralizar ladras é meu terceiro passatempo predileto)

- Não, não... Pode ficar... Tá. Agora... é... hummmmm... AGORA TIRA O ANEL.

- Esse anel aqui eu comprei na feirinha.

- Tira-o-anel.

Tirei. Ele me custou módicos 8,50.

Aí ela desistiu de mim, porque percebeu que meu celular era a melhor coisa que eu tinha no momento. Eu tinha o Seminário 15 do Lacan. Mas aí eu é que ia esculachar. E o melhor é que eu não paguei nem 1 realzinho pelo celular. Ou seja, a moça me tirou a incrível quantia de ... tchanaamaaaam 10,50. Não dá nem pra um lanche do Mc Donalds.

________________________

(repostando, porque vai ter a continuação! :D)

8.10.08

As coisas que só acontecem comigo: lou lou da pomerânia.

Eu ainda estava na graduação e tinha uma bolsa de iniciação científica do CNPq. Ou seja, eu não era ninguém, nada, coisa nenhuma, mas deveria levar uns artigos ao escritório do CNPq e isso me fazia com que eu me sentisse bem importante. Incrível como eu era arrogante sem perceber. Pior: devo ser ainda.

O artigo era pra concorrer ao melhor trabalho do ano (ou alguma coisa similar) e o prêmio era uma super bolada. Papo de uns dois mil reais. Sim, naquela época eu achava que essa bolada me levaria à Paris, por exemplo. No máximo à Canoa Quebrada, anjo. E dê-se por feliz. E achava que era tanto dinheiro que eu supunha que eu tivesse que entregar o tal artigo vestida como A campeã. Aquela coisa de assustar os concorrentes. Na época eu trabalhava a transferência em análise com Antígona, a tragédia. Jesus, como eu era criativa. E não, eu não fumava o cigarrinho do capeta. Não fumo ainda hoje pros engraçadinhos que pensaram "mas hoje, nééé".

Fui pra Ilha do Fundão como quem vai a um jantar de negócios: uma pasta cheia de livros e papéis (que estava pesada, inclusive), blusa preta, calça vinho, cabelo escovado, maquiagem leve e, evidente, salto agulha. Queridos três leitores, a Ilha ser do Fundão não é gratuitamente. A conclusão de que tudo nesta vida tem sua razão de ser se torna mais verdadeira a cada vez em que é colocada em prova.

Peguei o 910, linha de ônibus que deveria entrar no Guiness Book como o veículo de passageiros que, numa mesma viagem, atravessa o maior número de lugares perigosos do mundo: Vaz Lobo, Penha, Brás de Pina, Ramos, Olaria, Avenida Brasil e Linha Vermelha (trecho do complexo da Maré). Naquela época Plutão não tinha dado as caras no meu mapa astral e eu achava que o mundo era cor de rosa e que as paredes das casas eram feitas de waffers. Fui, sem temor nem piedade (aproveitando o gancho de Antígona e tal...).

Cheguei ao Fundão um tanto suada e esbaforida, já que era mais ou menos meio dia do verão carioca. O portal do inferno, para os íntimos. Porém, naquele momento, o que de fato importava era que escova e a maquiagem estavam ainda intactas. Viva, vou arrasar! Concorrentes, me aguardem. A sala do CNPq fica no prédio da reitoria que, por motivos estratégicos, é no fundão do Fundão. É a mesma lógica que faz de Brasília a nossa capital federal. Então, tive que pegar um outro ônibus dentro na UFRJ.

Saltei do cata-corno-federal na lateral da reitoria. Parei. Olhei. Entre mim e o prédio havia um pântano. E entre mim e o pântano, um salto agulha. Ok, sem desespero. Nem tudo está perdido, pensei. Meus concorrentes hão de ver que eu andei na lama antes de chegar aqui. O que me dá todo um caráter de bravura e coragem. Sim, caríssimos, sou uma guerreira. Enchi os pulmões de oxigênio e alguma outra coisa sulfúrica que tinha o ar dali (que me deu até uma certa onda, admito).

Montei minha estratégia: andar rápido só com ponta dos pés, uma vez que se o salto entrasse na lama, a probabilidade de eu cair seria exponencialmente aumentada. Além disso, se eu andasse devagar, com toda graça e a malemolência que me são peculiares, certamente a lama ia chegar no meu queixo e, além disso, também me ocorreu um certo temor de que ali surgissem caranguejos e restos humanos em geral.

Em plena corrida pelo mangue, percebi que havia um cachorrinho me olhando. Olhar fixo, intrigado. Era bem pequenininho, do tamanho de um Lou lou da Pomerânia. Ele me encarava, deitadinho embaixo de uma árvore. Isso mesmo, cachorrinho, há mais razões para nós, humanos, termos dominado o mundo do que supõe sua vã filosofia: nós sabemos, por exemplo, andar na lama com saltos finos.

O estranho é que ele começou a rosnar sem um motivo aparente. Lá de longe mesmo. Só que eu continuava andando rápido na ponta dos pés e na lama e ele me encarando e eu me aproximando e ele rosnando e ops, uns filhotes ah, que bonitinho, filhotes de pseudo-lou lous-da-pomerania!!

Neste momento, me faltavam dois metros para alcançar o cãozinho. Que continuava rosnando. Que começou a latir. Que se levantou. Que era uma cadela. Que protegia a cria. Que rosnava e latia. Que, opa, começou a correr pra me pegar.

É.

Em milésimos de segundo, cada axônio dos meus sistemas nervosos central-periférico-simpático-e-parassimpático foi tomado por todo peso do instinto de sobrevivência, aquele mesmo que garantiu que à minha linhagem erectus não se extinguisse há alguns milhares de anos.

Sim, eu sei, estamos no topo da cadeia alimentar, que era só uma dar um chute e a lou lou voaria longe e bla bla bla bla. Entretanto, aquela féla de uma rapariga corria atrás de mim com a intenção nefasta de morder a barra da minha calça. Ah, não. Rasgar a minha calça já é demais. Basta o meu bico fino/salto agulha enterrado na lama (já havia esquecido minha tática há muito, muito, muuuuuuuito tempo).


Gritei (aaaaaaaaaaaaah!!! Sai cachorro, sai, sai, sai, sai).

Corri da cadela. (aaaaaaaaaaaaah!!! Sai cachorro, sai, sai, sai, sai).


Corri da cadela no meio do pântano vestida como A campeã e com platéia, uma vez que o prédio da reitoria é o prédio de arquitetura e de belas artes. Era meio dia, lembram? Horário de almoço de alunos, professores e toda sorte de funcionários.

Depois de quinze metros de corrida e alguns de alguns decibéis, a lou lou do pântano deve ter se tocado que minha intenção não era roubar sua cria. Mas isso já não importava muito. Aliás, não importava nem um pouco. Eu já estava suada, o que fazia com que minha maquiagem tivesse derretido e eu me assemelhasse a um panda de gloss. Além disso, minha escova estava desfeita, meus pés cheios de lama. A catástrofe só não foi total porque eu tive o bom senso de colocar uma blusa preta e, deste modo, o resto do mundo não era obrigado a constatar a pizza no sovaco que tinha se formado com a corrida pela sobrevivência.

Pra vocês se aproximarem do tamanho da catástrofe, a moça que recebia os trabalhos me ofereceu água e perguntou se estava tudo bem, que era só pra entregar e que eu não seria argüida ali sobre meu trabalho. Rá, rá, rá. Antes fosse, meu bem. Mas eu não conseguia ainda articular palavras. Estava tremendo. Só pude sorrir e aceitar a água.

E, não, não ganhei a bolada.

___________
Para pedro e caio, que me torarram a paciência pra voltar e escrever sobre minhas derrotas. :)
Amo vocês!

18.9.08

Nossa Cristina Kirschner



"Oi, eu também tenho uma camada pré sal de maquiagem"

(Não, a piada não é minha. Li na Veja desta semana mesmo e amei... hehe)

20.8.08

Conversa

. Beta. diz:
fabão?

Fábio diz:
fala Betoka

. Beta. diz:
e o saco como tá?

Fabio diz:
gigantesco, monstruoso. Sou conhecido como Fabão Sacudo

. Beta. diz:
foi mal, msg errada...

. Beta. diz:
seu grosso...

Aqui entre nós: ele estava errado?

4.8.08

Na feijoada




Eu estava apaixonada. Não, apaixonada é muito forte. Imagina: eu, apaixonada... Rá. Mulheres modernas não se apaixonam. Vamos reformular! Estava querendo só dar uns pegas... Assim, coisa leve. Descompromissada. Moderna. Aliás, pós-moderna. Ultra-contemporânea. Uns beijinhos. Só isso.


MENTIRA! Estava caidinha mesmo. Bastava, por exemplo, olhar para os cabelos dele e vinha um pensamento nefasto, como Nossos filhos terão cabelos de qualidade! . Revisava a minha assinatura, já com o sobrenome dele, imaginava nosso cotidiano. Era dia e noite pensando nele. Ininterruptamente. E em loop. O que seria, de fato, um inferno na terra, caso ele não fosse ele. Mas ele ERA ele. O que imediatamente, me lançava instantaneamente e sem escalas pro paraíso.


Por exemplo, quando eu achava que dormir seria uma ótima solução, só pra minha vida ter uma outra razão além dele, lá estava o próprio, em todos os meus sonhos. E lá ríamos, conversávamos. Delícia. Isso quando, evidentemente, eu dormia. Era muito melhor ficar acordada, ligadona, pensando nele. Vivia eufórica... Parecia que tinha tomado 50mg de qualquer anfetamina barata de uma vez.
Lia Vinicius de Moraes e pensava nele. Ouvia Maria Bethânia e sonhava em declamar aquilo tudo pra ele. E diga-se de passagem: até um Bruno e Marrone me fazia lembrar daquele rapaz Assistia os filmes mais imbecis e pensava nele. Até mesmo quando eu, nas minhas incontáveis noites de insônia, assistia “A Fogueira Santa de Israel”, eu jurava vê-lo ali, como um dos fiéis, gritando “queimaaaaa”. Porque eu não sei se você já teve este tipo de experiência, mas quando eu tô caidinha por alguém, eu vejo a pessoa em qualquer lugar que meu olhar possa alcançar. Obviamente é apenas uma alucinação da minha mente carente/psicótica. Aí é um tal de viver em quase-síncope o tempo inteiro, porque eu acho que vejo, meu coração já dispara. Ainda bem que meu coração anda – biologicamente - numa boa.
Mas o caso é que até este momento, necas... Nem um beijinho. Só flerte.


Certa vez, ele me chama pelo messenger.

- Oiiiiiiiiiiiiiii!!!!
- Uau, que animação! Tudo bem?
- Tudo! Vc ta sabendo... sábado tem feijoada da Portela.
- Claro que eu to... hehehe...
- Vc vai?
- Vou! Vc vai tambéééémmmm?
- Por que este “tambéééém” histérico???? HAHAHAHA
- Ai... vc vai ou não vai?
- Olha o pití...
- Hein, hein, hein?
- Vou… Por que?
- Nada, não. Só curiosidade. Tava achando que você poderia me pagar uma cerveja lá. Aquela caloreba toda, sabe?
- É, vou pensar no seu caso.
- ... (na verdade, neste momento, eu queria ter mandado um coraçãozinho batendo forte... pois como você, leitor, pode supor, eu estava quase tendo uma convulsão).
- Sábado eu te ligo!
- Beleza! (aquela que quer pagar de “não to nem aí”).
- Então tá... Até sábado! Beijooooooooooooooooo (será que este beijo enorme é sinal de paixão???)
- Beijão! (na boca, de língua, por todo seu corpinho moreno... gostoso!)

Era uma quinta-feira. De repente eu me vi submergindo em tantas pendências: emagrecer 10 kg em dois dias. Depilação da virilha (afinal, nunca se sabe... e de qualquer maneira, não era legal sair por aí parecendo uma peruca de biquíni). Hidratação do cabelo. Do cotovelo. Do calcanhar. Calcinha nova. Perfume na medida certa. Assim como a maquiagem. IMPORTANTE: lembrar de não passar da segunda latinha. Escutar nestes dois dias todos os sambas que der (pra parecer íntima do situação). Unha vermelha. A do pé. A da mão tem que ser branquinha. Roupa impecável e que combine com clima samba-suor-e-cerveja, sem parecer gratuita... Muito menos oferecida! Camisinha (afinal, nunca se sabe... e de qualquer maneira, era legal parecer uma mulher que se cuida). E por falar em se cuidar, o mais importante: ES-CO-VA-DE-DEN-TE. Acima de qualquer coisa, aquilo seria uma feijoada, vamos combinar.

No sábado, revisei todas as pendências:

- Unha? Impecável!
- Depilação? Pele lisinha!
- Roupa? Passada e cheirando a amaciante.
- Escova de dente, camisinha, rímel e gloss? Dentro da micro-bolsa que coordenada com o resto da vestimenta.
ARRASEI!
Lá pelas 3 da tarde chego na Portela. Ele liga em seguida. Já estava chegando. Eu estava comendo. Pânico. Larguei o lombinho e corri pro banheiro escovar o dente, passar o fio dental. Afinal, era hoje! HO-JE. Dali a meia hora talvez fosse um dos momentos mais felizes da minha vida, só comparando com o dia em que consegui meu primeiro emprego de carteira assinada. Neste dia, minha mãe até bateu foto.

O telefone toca mais uma vez.
- Nanda? Cheguei! Taonde?
- Errrrrr... to chegando na quadra.
- Ué, você não tinha chegado, doida?
- É, tinha. Tava o banheiro.
- Ah, ta! Já comeu?
- Já!
- Então, vamos fazer o seguinte... Eu vou comer, aí eu te ligo novamente, ta?
- Ta bem!
- Beijinho!
- Beeeeeijo!

Aiiiiiiiii, “beijinho”. Adorei o diminutivo! Que lindo! Ele estava apaixonado! Ele nem me chama de gatinha, coisa que eu odeio! Isso é um sinal divino! Que vontade de pular! E estava mesmo apaixonado! Uhuuuuuuuuuuuuulllllll!!!!

Depois de 1 hora de uma manada de elefantes pisoteando meu estômago, toca o telefone.

- Nandiiiiinha! (cheio de malemolência!). Acabei de comer, cadê você?
- To numa mesa a esquerda do palco!
- To indo a praí! Não vou te mandar beijo agora, não. Prefiro dar ao vivo.
(desmaiei)
- Nanda?
- Oi... hehe... tá muito alto o som aqui. O que você disse mesmo?
- Que eu to chegando!
- Ah, tá. To te esperando já há quase 2 horas! Vem logo!
- Já to te vendo daqui.

Passaram-se 15 segundos até ele chegar. Os 15 segundo mais demorados de toda a minha vã existência. Chegou dando um cheiro no cangote, o que eu amei, claro.
- Então, vamos tomar aquela...
As palavras de repente foram ficando cada vez mais baixas, mais baixas, tão baixas que eu nem escutei o resto da frase... Entrei em estado de choque anafilático quando me dei conta de que ali, em cima do seu canino, repousava, serena, uma enorme casca de feijão. Daquelas que a gente tem vergonha de falar pra pessoa que a porta de tão enorme que ela é... porque ela denuncia assim, diretamente, que a pessoa em questão é uma grande porca. Aliás, a pessoa não perguntou nem pro melhor amigo se a boca estava. Ok, amigos também servem pra este tipo de coisa, tive vontade de denunciar. SENHOR, AQUILO ERA UMA FEI-JO-A-DA! Eu me torturei numa depiladora pra este infeliz me aparecer aqui, com esta casca no dente??? Ah, não. Uma lágrima verteu do meu olho esquerdo e na minha caixa craniana ecoava, solitária, a palavra “merda”.

- Que foi, gatinha? Que cara é esta?
- Anh? Cara? Ah! Nada, não...

(na verdade, depois da décima quinta latinha, eu o avisei da existência da casca de feijão. O climinha “Alasca” dissipou-se. Nos pegamos ali mesmo. Ele, sem casca. Eu, com – muita - cerveja. Nos casamos quatro meses depois, no mesmo samba. Hoje temos um filho ruivo e um labrador chocolate).


3.8.08



(Oi, você tem orkut?)


Passeando pelo orkut, me deparo com isso aí em cima. Não pude me conter. Pensei um monte de coisas, mas a primeira delas foi: por que expor a solitária assim, impunemente, na rede mundial?

Eu odeio sentir vergonha alheia. Odeio.