2.12.08

As coisas que só acontecem comigo: nudez masculina.

Eu comecei tarde. E eu não sei se tem a ver com que eu vou lhes narrar agora, mas a nudez masculina é algo que me deixa desconfortável. Eu acho homem uma delicia, tão delicia que tá duro viver sem bonito: tórax, ombro, braço, rosto, barba. Agora, não me pede pra olhar suas vergonhas e achar aquilo belo. Birrotas são feias.

Mas desconfio que isso tem uma razão de ser.

Meu primeiro beijo foi aos dezessete anos, o que eu acho que confirma uma hipótese levantada por mim numa conversa com a Dri: eu só posso ter bafo. Veja bem: nada de tão errado assim esteticamente, sou inteligente, bacana, um pouco neurótica (mas disfarço bem em nome da política da boa vizinhança). Assim, a única coisa que poderia explicar a atual seca o fato de eu ter dado meu primeiro beijo tão tarde é eu exalar cheiros pouco agradáveis. Simples, assim.

Apesar de o meu primeiro beijo ter sido aos dezessete, a primeira vez que tive contato com um homem nu foi aos dezesseis. Engraçado, isso me lembrou a sobrinha da Gretchen, que fez um filme pornô e ainda é virgem. Eu era toda santinha, quieta, achava um absurdo beijo de língua, além de só tirar nota 10 em tudo e lavar a louça, arrumar a cama. Nem cárie eu tinha. Eu era a filha exemplar. Além de insuportavelmente chata, claro. Ver homem pelado era algo impensável, algo que só podia ser feito depois do casamento.

Voltemos.

Nunca tinha visto um homem nu fora do âmbito familiar, uma vez que meu irmão não tem o menor pudor em andar peladão pela casa, apesar dos meus berros neurastênicos. Vamos combinar, né?! Eu preciso realmente ver as partes pudendas do meu irmão? Não, obrigada. Passo a vez.

Aos dezesseis, eu estava no segundo ano do segundo grau de um colégio novo. Neste colégio novo, as pessoas levavam a sério a aula de artes. No outro, era aquela coisa de "aprendam a usar o compasso e estamos conversados". Neste, não. Havia discussões sobre teatro e música. E eu sou era completamente alienada destas coisas estranhas dos movimentos artísticos e tal. Ainda ouvia funk melody e a arte só entraria na minha vida HAHAHAHA muito tempo depois.

A então professora de artes pediu para que fôssemos a uma peça e fizéssemos uma resenha. Legal, eu nem sabia o que era uma resenha aos dezesseis. Lembrem-se que naquela época não havia nem o Google. Apelei pro bom, velho e saudoso Aurélio. Eu disse que eu era alienada. Eu disse. E, só a título de informação, eu era uma das melhores alunas da turma. É a velha máxima kantiana: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. O tal trabalho era em grupo e, por isso mesmo, nem levei a sério. Achei que alguém do grupo pudesse escrever alguma coisa sobre A Bruxinha que era boa e estaria tudo certo.

Não, ninguém escreveu sobre A Bruxinha que era boa. Fiquei sabendo que sobraria pra mim a árdua tarefa da assistir uma peça e escrever sobre ela. "E, olha só, Carolina: o trabalho é pra amanhã". Eu podia ter sido bem mesquinha e não colocar o nome de ninguém. Mas fui idiota como sempre.

Oi?

Claro que eu me desesperei. Minha mãe, paciente, disse que iria comigo. Olhamos o jornal e resolvemos: Teatro Carlos Gomes ver Gilgamesh. A peça era com o Luiz Melo, que estava começando a aparecer na Globo, o que dava uma nova dimensão à peça. Não era qualquer um, era o Luiz Melo da Globo. Evidentemente, eu não sabia até agora naquela época que Gilgamesh foi o primeiro conto da humanidade. Queria mesmo era a nota. Assim mesmo, bem adolescente de saco cheio de tudo.

A peça vinha transcorrendo numa boa. Rolavam uns incensos (minha mãe e o moço que estava ao lado dela reclamaram um pouco, para minha mais total e completa vergonha), o cenário era bem bonito, tinham umas coisas épicas, navios, guerras, uhuuuuuuuuuu.

Eis que em dado momento Gilgamesh fica doente, acamado e, sobre ele, há apenas um lençol.

Será, meu deus? Será?

Um amigo vai visitá-lo e minha mãe já não se continha mais nela:

- Iiiiiiiiiiiiiih. Esquisito, hein.
- Shhhhhhhh. Pára, mãe.

Ok, a cena simboliza o amor entre os dois amigos e tal... Opa. O amigo parecia preocupado além da conta. O amigo vai puxando o lençol.

Minha mãe e toda discrição que lhe é peculiar:

- HHAHAHAHAHAHAHA. Ele tá pelado. OLHA LÁ, ELE TÁ PELADÃO!
- Tá não, mãe.
- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH

Eu nunca torci tanto pra uma coisa não se materializar como verdade. Eu contraí todos os meus músculos, fiz uma força heróica, quase quebrei a poltrona do teatro. Sabe aquela coisa de pensamento mágico? Eu achei que pudesse dar certo.

O amigo vai puxando o lençol, puxando bem devagarzinho.

Mantra: não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não. NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO.

Puxando, puxando, puxando e... PUXOU!

Mantra2: tudo bem, agora fica deitadinho. DEITADINHO. DEI-TA-DI-NHO. Deitadinho. Deitadinho. Aaaaaaaiiiiii. Por favor, deus, hoje não. Agora, não. Não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não. Com a minha mãe do meu lado rindo e me sacaneando, não. Ai, não. Esse amigo vai se jogar em cima dele. NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO.

E Gilgamesh levanta-se para abraçar apaixonadamente seu amigo. Eu só consegui ver o Luiz Melo nu, nu, nu, peladinho da silva.

Oi, gata. Q tc?


Minha mãe, engraçaralha pra cadinha:

- AEEEEEEEE, VIU HOMEM PELADO!!! HAHAHAHAHAHAH. E AGORA, HEIN! VOU CONTAR PRO SEU IRMÃO QUE VOCÊ QUIS VIR A ESTA PEÇA SÓ PRA VER HOMEM PELADO!!!!

Não consegui articular uma palavrinha sequer. Queria mesmo a terra se abrisse e me engolisse.

Percebam todo o drama que tingiu a minha existência posterior: o primeiro homem que vi nu na vida foi o Luiz Melo, sem poesia, sem romance, sem um whiskinho antes pra relaxar. E eu estava ao lado da minha mãe.

Numa muito boa, não sei até hoje como eu não desenvolvi uma cegueira histérica.

(E o trabalho? Ah, sim. Copiei aquele folheto que eles dão no início da peça... esqueci o nome daquilo)

9 ficando fora de si:

Anônimo disse...

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA...

Vai ser preciso muita análise para superar esse trauma!

Carol disse...

Só minha analista sabe quão profunda foi esta marca... hahah

Jana disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Eu sou precoce PQP! kkkkkkkkkkkk

beijos

Unknown disse...

hauahuhauhauhahua

Dri disse...

Carol, deve ter ficado algum trauma sério por ter começado a ver homem pelado com esse aí da foto. Isso explica todo o resto da dificuldade com homens. Fique tranquila: você não tem bafo! Hahaha!

Anônimo disse...

Oi Carol!
Vim parar no seu blog por acidente - aliás, foi mesmo fuçando pelos links de quem comentou no blog do Inagaki! =)

E foi uma boa surpresa, porque adorei seu texto! Concordo, a nudez masculina pode ser assustadora, mas a verdade é que homem é um bicho bão demais da conta! rsrs
Esses detalhes a gente supera...

Você não começou muito bem no mundo da nudez do sexo oposto, mas veja pelo lado positivo: poderia ter sido pior, muito pior.

Bem, parabéns pelo blog!
Beijos!

Anônimo disse...

Oi Carol!
Voltei só para agradecer o comentário e avisar que te linkei lá no PNT.
Beijos!

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

chorei de rir agora.

Honey disse...

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH
sua mãe é ótima, ri horrores!
..perdão Carol, sei que ficou traumatizada, mas impossivel não rir.