27.6.10

saudade

Brincando no meu quarto enquanto eu fazia preguiça na cama, você pergunta:

- Cadê o meu Papai?

Conto a história sem rodeios, diante do seu olhar não muito atento. Rapidamente você se distrai com outra coisa.

À tarde, estamos tomando um lanche no meu café predileto. Você diz, naturalmente:

- Eu fiquei muito triste que o meu Papai morreu. Fiquei muito bravo porque ele tá "morrido".

Senti o mesmo, filho. E, como você, expressei sem medir as palavras. É muito bom ver sua lucidez. Conheço gente de quase quarenta que até hoje não sabe dar nome ao que sente.

Bom começo, Francisco. Bom começo.


Para Francisco, Cris Guerra.

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aí que eu li isso e tô aqui chorando.

Eu passei, pelo menos, 15 anos de hiato entre perguntar "cade meu pai?" e dizer "to triste e brava porque ele tá morrido", sem poder falar sobre a saudade que sinto do meu pai. Sem poder falar da raiva, da mágoa, do desamparo, da solidão.

O que mais dói é eu não poder olhar pra ele e dizer: "por que vc fez isso comigo?", "eu morro de saudade", "eu sempre quis ser uma filha pra vc se orgulhar".

Mentira. O que mais dói é eu não ganhar cafuné nem poder dar um abraço.

É isso que dói.

2 ficando fora de si:

Nathália. disse...

Carol....não sei ainda a dor de perder um pai...mas sempre que me lembro da morte do meu avô eu choro também....é a saudade que fica que tortura a gente...

Pedro Rabello disse...

Sinto essa falta da minha avó.