Essa é a minha lembrança mais gasta: tinha quatro anos.
Era um daqueles domingos de verão, almoço em família. Na verdade, o almoço mesmo tinha acabado já há horas. Estávamos todos na varanda, numa tentativa de diminuir o calor com conversa. Redes, almofadas, algumas xícaras de café e carinho.
Aos quatro anos de idade, momentos como aquele faziam com que pertencesse em pé de igualdade ao mundo daquelas pernas compridíssimas que acabavam sabe-se lá aonde.
De súbito, perguntei:
- Mãe, como eu nasci?
O irmão mais velho, já com vinte anos, esticado no chão num dos cantos da varanda, me responde:
- Você foi a segunda garrafa de vinho!
Todos riram. Essa foi umas das frases que permaneceram coladas em mim como mistério por anos. Afinal, como eu poderia ser uma garrafa de vinho? Como? A interrogação ficou bordada no meu rosto. Minha mãe, sempre sensível, estava na rede e me tomou pelos braços me colocando no seu colo.
Entre cafunés, disse:
- Filha, você chegou de surpresa! Nós não achávamos mais que eu pudese engravidar... Seus irmãos já eram bem crescidos. Olha só como eles são grandões e você, tão pequenininha! Aí, pensamos se queríamos você ou não. Quisemos! Escolhemos seu nome, o nome da sua bisavó. Você nasceu e está aqui com a gente hoje!
Lembro de ficar tão assustada que a única alternativa que me sobrou era recorrer à pergunta que faço ainda tantas vezes depois destes vinte e tantos anos:
- E agora o que eu faço, mãe?
Um ano se passou
Há 11 anos
3 ficando fora de si:
Hehhehe... lindo, isso. É autobiográfico mesmo?? Beijos, amôre. Voltei a ter tempo pro Albergue. Ótima semana.
Não, nem é. Ouvi e achei bonitinha!
ahhhh, fiquei imaginando uma carol duartezinha que eu só conheço de fotos pequenas e textos grandes, rodeados de gente de perna comprida =)
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